Talvez a justificativa mais
comum para escaparmos do sentimento de culpa seja a de classificar cada falha
humana como uma espécie de doença. Alcoólatras e viciados em drogas recebem tratamentos
clínicos por causa de sua "dependência química". Crianças que
geralmente afrontam as autoridades podem livrar-se da reprovação sendo
rotuladas de "hiperativas", ou por sofrerem de um desvio de atenção.
Os glutões nunca são considerados culpados, pois sofrem de "desequilíbrio
alimentar". Até mesmo um homem que abandona a vida em família e gasta seu
dinheiro com prostitutas deveria ser olhado com compaixão, pois é um
"viciado em sexo".
Um agente do FBI foi demitido
após desviar dois mil dólares e gastá-los no cassino numa única tarde. Algum
tempo depois, ele processou o FBI sob a alegação de que seu vício deveria ser
entendido como uma incapacidade. Sendo assim, a demissão foi uma discriminação,
um ato ilegal. Ganhou a causa! Além disso, seu seguro saúde teve que pagar sua
terapia pelo fato de ser um viciado. É como se sofresse de uma apendicite ou
unha encravada.
Atualmente, qualquer tipo de
delito que o ser humano comete pode provavelmente ser explicado como uma
enfermidade. O que antigamente denominávamos pecado é mais facilmente
diagnosticado como um conjunto de incapacidades. Todo tipo de imoralidade e de
conduta maldosa são agora identificados como sintomas desta ou daquela doença
psicológica. O comportamento do criminoso, todo tipo de paixão imprópria e
qualquer vício imaginável são passíveis de desculpas se receberem o rótulo de
desequilíbrio emocional. Até mesmo os problemas mais corriqueiros como a
depressão, a fraqueza emocional e a ansiedade também são universalmente
definidos — quase que no mesmo nível—como desequilíbrios emocionais que
neces¬sitam de cuidados médicos, e não classificados como doenças espirituais.
A Associação Americana de Psiquiatras publicou um livro para ajudar os
terapeutas no diagnóstico dessas novas doenças. The Diagnostic and Statistical
Manual of Mental Disorders [O manual de diagnóstico e estatística de distúrbios
mentais] ( 3a edição, revista) — ou DSM-III-R, como popularmente entitulado —
lista os seguintes "distúrbios":
• Distúrbio de Conduta — "um padrão
de conduta persistente no qual os direitos básicos dos outros e as normas ou
regras da sociedade concernentes às faixas etárias são violados".
• Distúrbio Oposicional Desafiante —
"um padrão de comportamento negativista, hostil e desafiante".
• Distúrbio Hislriônico de Personalidade —
"um padrão difuso de emocionalidade excessiva e busca de atenção".
• Distúrbio Anti-Social de Personalidade
— "um padrão de comportamento irresponsável e anti-social, que começa na
infância ou no início da adolescência e continua na idade adulta".
E há muitos outros distúrbios
semelhantes. Muitos pais, influenciados por tais diagnósticos, recusam-se a
punir seus filhos pelo mau comportamento. Em vez disso procuram terapia para
DOD, ou DHP, ou para qualquer novo diagnóstico que se encaixe no comportamento
rebelde da criança.
Segundo um escritor, a
abordagem em termos de doença do comportamento humano nos oprimiu tanto, como
sociedade, que nos deixou malucos. Queremos fazer leis que inocentem jogadores
compulsivos quando estes desviam dinheiro, e que forcem as companhias de
seguros a pagarem pelo tratamento deles. Queremos tratar pessoas que não
conseguem encontrar o amor, e que em lugar disso (se mulheres) vão atrás de
homens superficiais e apáticos, ou (se homens) vivem infindáveis casos sexuais,
sem encontrarem a verdadeira felicidade. E queremos chamar todas essas coisas —
e muitas, muitas outras — de vícios.
O que esta nova indústria do
vício deseja alcançar? Mais e mais vícios estão sendo descobertos, e novos
viciados identificados, até que todos nós estejamos aprisionados em nossos
pequenos mundos com outros viciados como nós, catalogados pelos interesses
especiais da nossa neurose. Que mundo repugnante e desesperançoso de se
imaginar! Enquanto isso, todos os vícios que definirmos aumentarão. '
Pior do que isso é que o rápido
aumento do número de pessoas que sofrem desses tais novos
"desequilíbrios" aumenta de modo mais rápido ainda. A indústria da
terapia claramente não está solucionando o problema que as Escrituras chamam de
pecado. Em vez disso, simplesmente conven¬cem as multidões de que estão
desesperadamente desequilibradas, e portanto, não têm nenhuma responsabilidade
pelo seu mau comportamento. Isso lhes dá permissão para entenderem que são
pacientes e não malfeitores. Isso também as encoraja a se submeterem a um
tratamento intenso — e caro — que dura anos a fio, ou melhor, a vida toda.
Parece que esses novos desequilíbrios são enfermidades que ninguém espera
superar completamente.
O pecado tratado como doença
provocou um crescimento enorme da multibilionária indústria do aconselhamento e
o recurso da terapia de longo prazo, ou até mesmo permanente, promete um
brilhante futuro econômico aos profissionais da área. Um psicólogo analisou
essa tendência e sugeriu que existe uma estratégia definida na maneira de o
terapeuta comercializar seus serviços:
1. Continuar a psicologização da vida;
2. Das dificuldades fazer problemas e
espalhar o alarme;
3. Tornar aceitável o fato de ter problemas
e ser incapaz de resolvê-los sozinhos;
4. Oferecer salvação [psicológica, não
espiritual].
Ele observa que muitos
terapeutas propositadamente estendem o tratamento por anos, até mesmo depois
que o problema que provocou a procura do profissional tiver sido resolvido ou
esquecido. "Eles demoram tanto na terapia que o paciente torna-se muito
dependente do terapeuta; e um período especial de tempo — às vezes seis meses
ou mais — se torna necessário para que o paciente fique pronto para deixar
terapia, Recuperação," a senha dos programas que seguem o padrão dos
Alcoólicos Anônimos, é claramente definida como um programa para a vida toda.
Crescemos acostumados com a imagem de uma pessoa que já é sóbria há quarenta
anos, mas que, ao se levantar numa reunião do AA, diz: "Meu nome é Bill e
sou um alcoólico". Agora, todos os viciados estão usando a mesma abordagem
— incluindo viciados em sexo, em jogo, em fumo, pessoas que cedem facilmente à
raiva, em espancamento de mulheres, em violentar crianças, em dívidas, em
auto-abuso, em inveja, em comida ou em qualquer coisa que seja. Pessoas que
sofrem de tais males são ensinadas a falarem de si mesmas como em
"recuperação", nunca como "recuperadas". Aqueles que ousam
pensar sobre si mesmos como já estando livres de seus desequilíbrios ouvem que
estão negando seu problema.
Graça&Paz!
ResponderExcluirGostei imenso de ler este artigo. Excelente abordagem. Realmente esta atitude de não ter atitude para chamar o pecado pelo nome, leva-nos a procurar-mos meios humanistas altamente destrutivos e pior... viciantes.
No confronto entre psicologia e aconselhamento bíblico, quais os livros que o pastor Josemar aconselha?
Já agora: De onde foi retirado este artigo do MacArthur?
Abraços